Categoria: Banda Desenhada

Imagem independente

A Image Comics é uma editora americana de comics e novelas gráficas criada em 1992 com o intuito de possibilitar aos criadores um meio de publicar os seus trabalhos sem perderem os direitos autorias sobre as personagens e histórias que criavam, como era prática na época, e ainda é, na Marvel Comics e na DC Comics.

Fundada originalmente por sete artistas vindos da Marvel: Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld, Erik Larsen, Whilce Portacio, Marc Silvestri e Jim Valentino, todos os primeiros títulos da Image foram sucessos comerciais imediatos, tornando-se desde então numa das maiores editoras de comics do EUA, com um catálogo repleto de bons autores e grandes títulos mas também com o que de pior se podia encontrar nos comics de super-heróis nos anos de 1990.

Image comics antigos

Neste ponto a Image conseguiu subverter e generalizar um estilo de narrativa visual cuja origem atribuo a Neal Adams, em particular na sua Continuity Comics, a editora que criou em 1984 e que esteve activa até 1994. Escrevo subverter porque muitos dos desenhadores publicados pela Image, ou melhor, pelos diversos selos editoriais que a editora agregava, pareciam desenhar em papel vegetal sobre as pranchas de Adams, eliminando cenários e o que de real ainda continham os seus desenhos e acentuando a musculatura dos personagens masculinos, o “erotismo” das personagens femininas, o tamanho das armas e o nível de violência e sangue derramado, sendo Rob Liefeld um mestre nestas “inovações”.

Enquanto escrevia este artigo reli alguns dos títulos que fizeram mais sucesso: Spawn, WildC.A.T.S., Supreme ou Youngblood, tarefa essa que se tornou rapidamente entediante tal é a confusão visual e a pouca qualidade dos argumentos, sendo esta uma das críticas recorrentes na época. As várias polémicas geradas inicialmente pela gestão duvidosa da editora ou o uso agressivo de técnicas marketing e publicidade, que se tornaram na época standards da indústria, principalmente nas capas artilhadas com diversos truques visuais: hologramas, pop-up’s, capas variantes ou que brilham no escuro, também não ajudaram ao bom nome da editora, sendo esta acusada de apenas publicar lixo visual para adolescentes.

No fundo os sete rebeldes apenas queriam o legítimo retorno financeiro que as suas criações poderiam gerar e não apenas serem pagos à página como acontecia na Marvel, apesar dos títulos onde participavam venderem milhões de exemplares, batendo mesmo recordes — McFarlane em Spider-Man, Jim Lee em X-Men ou Rob Liefeld em X-Force — e os royalties serem quase inexistentes.

Mas com o tempo, e com o fim da musculada década de 90, a Image foi-se consolidando como editora e passou a ser considerada por diversos autores, já estabelecidos ou em início de carreira, como um meio viável e de reconhecida qualidade para publicar as suas criações mais pessoais, entre os quais Hellshock por Jae Lee, Astro City por Kurt Busiek, Brent Anderson e Alex Ross, Bone por Jeff Smith, Kabuki por David Mack, o universo 1963 escrito por Alan Moore ou The Walking Dead por Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard, este um conhecido e reconhecido sucesso comercial e artístico ainda em publicação.

O ano de 2008 seria um ponto de viragem para a editora ao contratarem Eric Stephenson para o cargo de Publisher. O discurso que proferiu em Fevereiro último no encontro em Atalanta dos membros da ComicsPro, uma associação de retalhistas de comics, é um bom exemplo da sua visão sobre a indústria e sobre o passado recente, o presente e o futuro da Image, onde um dos objectivos principais é diversificar as temáticas e estilos dos títulos publicados para alcançar outros públicos pouco ou nada habituados a lerem comics, e isto não com produtos derivados de séries de televisão ou filmes mas sim através da qualidade narrativa e gráfica das histórias.

Satellite Sam #9 de Matt Fraction e Howard Chaykin
Satellite Sam #9 de Matt Fraction e Howard Chaykin.

Neste últimos anos, e como consequência desta abertura, uma série significativa de bons autores começou a publicar através da Image e desses destaco Ed Brubaker (poderia bem ser Howard Chaykin com o seu Black Kiss ou Satellite Sam com Matt Fraction, mas Chaykin merece um texto só a ele dedicado) e os seus mais recentes títulos: Fatale com Sean Phillips e Velvet com Steve Epting, ambos exemplarmente coloridos por Bettie Breitweiser.

Brubaker, agraciado já por cinco vezes como Melhor Argumentista nos prémios Harvey e Eisner, é um dos meus escritores favoritos e um dos melhores a escrever séries negras e de espionagem, a reinventar super-heróis, ancorando-os em cenários credíveis e baseados na nossa realidade ou a criar personagens com passados misteriosos e conturbados. Não admira por isso que Brubaker atribua a sua vontade precoce de escrever histórias ao facto de ter acompanhado a sua mãe a encontros dos AA enquanto criança.

Fatale #23 de Ed Brubaker e Sean Philips
Fatale #23 de Ed Brubaker e Sean Philips.

Fatale é uma série negra com contornos sobrenaturais que relata a vida de Josephine, uma mulher fatal, aparentemente imortal — a narrativa decorre entre os anos de 1950 e 1990 — com a capacidade involuntária de manipular a vontade dos homens, ficando estes obcecados por ela. Sem surpresa, essas relações geralmente acabam mal até porque um sinistro culto que idolatra deuses cósmicos lovecraftianos persegue a Jo.

Publicada desde 2012, Fatale teve várias nomeações em 2013 nos prémios Eisner é a quarta série escrita por Brubaker e desenhada pelo talentoso Sean Phillips editada pela Image, depois de Sleeper, Criminal e Incógnito. A série terminou em Julho último com o número 24 mas a equipa criativa já iniciou em Agosto a publicação de mais um projecto promissor: The Fade Out, uma história policial negra — claro — que tem como cenário a Hollywood dos anos de 1940.

Velvet é a mais recente colaboração de Brubaker com Steve Epting depois das suas aclamadas passagens por Captain America, onde devolveram ao herói o clima de espionagem e intriga internacional dos anos 70, em particular na fase curta mas seminal de Jim Steranko. E aqui essa influência volta-se a sentir mas agora centrada numa personagem sem super poderes e considerada por Brubaker como uma das suas criações favoritas: Velvet Templeton, a assistente pessoal do Director da Arc-7, uma agência secreta de espiões, que se vê envolvida numa teia de mistérios, a começar pelo seu próprio passado.

Velvet #6 de Ed Brubaker e Steve Epting
Velvet #6 de Ed Brubaker e Steve Epting.

Steve Epting, influenciado por Jim Holdaway (Modesty Blaise), Al Williamson (Secret Agent X-9) ou Stan Drake (Kelly Green), desenha Velvet como uma mulher de aspecto clássico, elegante e atraente mas duro, a fazer lembrar a curta interpretação, para mim definitiva, de Natasha Romanova, a Black Widow, de Paul Gulacy (Bizarre Adventures nº 25, Marvel, 1981, argumento de Ralph Macchio) ou mesmo a Contessa Valentina Allegra de la Fontaine. Epting tem aqui neste argumento de Brubaker os elementos ideais para canalizar todo o seu talento ainda pouco reconhecido.

Se perderam os primeiros números, ambas as séries encontram-se disponíveis também em TPB pelo que recomendo vivamente a sua leitura.


André Azevedo escreve habitualmente no blogue A Garagem.

Estantes #4

Estantes Mário Venda Nova

Estantes Mário Venda Nova

Estantes Mário Venda Nova

Estas são as minhas estantes carregadas de banda desenhada, de graphic novels e bastantes compilações… Aqui estão alguns dos meus livros favoritos, com quem tenho uma relação especial e que em determinado momento me marcaram por várias razões. Começo logo pelos vários livros de Dave McKean, o Violent Cases, o Signal to Noise (ambos em colaboração com Neil Gaiman) e o Cages. São livros fabulosos onde a arte de McKean está bem patente e marcada, adoro o Violent Cases. Ah e falta-me o Mr Punch… depois destes passo para outro livro que faz parte do meu imaginário: Market Day de James Sturn, um clássico! Uma história sobre um homem que faz tapetes e que os vende no mercado mas que vai perdendo clientes para as grandes lojas que vendem tapetes feitos em série… uma belíssima estória!
Por aqui também há livros com as grandes sagas de super-heróis: The Phoenix Saga dos X-Men, DareDevil de Frank Miller, Batman: The Dark Knight Returns (também de Miller), e a saga da Elektra. Mas há mais… muito mais.
Noutro lado graphic novels, entre muitos a fabulosa Sandman: The Dream Hunters de Neil Gaiman e Yoshitaka Amano, numa adaptação de um conto tradicional japonês que está no meu top dez de banda desenhada! Outro top dez: The Arkham Asylum de Mckean, ilustração de topo e uma estória brutal do Barman, negra e sinistra. Seria injusto esquecer V for Vendetta e os Watchmen, ambos já adaptados (com mais ou menos sucesso) o cinema, os dois saídos da pena de Alan Moore. Ou o fabuloso Blankets de Craig Thompson, ou o Curses de Kevin Huizenga, e o não menos fabuloso Tell Me Dark, uma estória sinistra de amor e libertação (outro meu top dez).
Noutros poisos a mangá japonesa, nomeadamente o Lone Wolf and Cub, uma estória baseada na vida do samurai Miyamoto Musashi, autor do famoso livro de conduta samurai The Book of Five Rings. Também lá estão os seis volumes do Akira (cerca de 400 páginas cada um…) que adorei e devorei em outras tantas noites, e o mui famoso Ghost in the Shell. Mas para mim a pérola é sem duvida é o Naussicaä of the Valley of Wind do célebre Miyazaki, que nos deu filmes como a Princesa Mononoke e a Viagem de Chihiro (talvez o meu filme de animaçao favorito ao lado do Fantasia de Walt Disney).
Termino com dois de Joe Sacco, totalmente apropriados aos dias de hoje: War’s End e Palestine.
Como se pode perceber há aqui todo um universo de banda desenhada, um mundo de aventuras ao dispor da imaginação, um universo alternativo que nos permite escapar ao dia-a-dia, entrar pelo sonho e dentro e alargar horizontes. A BD tem um universo próprio que no seu melhor cruza a literatura com a ilustração e que nos transporta ao melhor que cada uma nos dá.

Sugestões #51

Star Wars: X-Wing
Em primeiro plano a nave de transporte GR-75 do X-Wing: Rebel Transport Expansion Pack, que também inclui um X-Wing de escolta.

Sugestões para aquecer os ânimos no já no próximo Outono, a destacar Avengers and X-Men: Axis por Rick Remender e Adam Kubert, Guardians 3000 #1 por Dan Abnett e Gerardo Sandoval na Marvel, Colder: Bad Seed #1 por Paul Tobin e Ben Stenbeck na Dark Horse, Wytches #1 por Scott Snyder e Jock na Image e War Stories #1 por Garth Ennis e Matt Martin na Avatar. E aproveitem para passar por cá que temos muitas novidades e muitas sugestões na livraria ideal para levar para as férias. Também começam a haver batalhas regulares de Star Wars: X-Wing, aproveitem para aprender. Boas Leituras!

Marvel para assinatura

Avengers and X-Men: Axis #1 (de 9)

Por Rick Remender e Adam Kubert. O Red Skull explora ao máximo as habilidades do maior telepata do mundo para transmitir ódio puro por todo o globo. Agora, nascida do assassínio da Charles Xavier, a World War Hate começa. Tony Stark descobre uma verdade secreta, que irá virar do avesso a sua vida, como a vida de todos aqueles que ele gosta. Podem os Avengers e os X-Men finalmente unirem-se? Será que a sua força combinada, suficiente para deter o poder do Red Onslaught? Magneto matou o homem errado, libertando o maior mal que o universo Marvel alguma vez conheceu. Agora Rogue e a Scarlet Witch são as únicas que o podem deter.

Thanos: A God Up There Listening #1 (de 4)

Por Rob Williams, Neil Edwards e companhia. No final da saga Infinity, Thane descobre que é filho de Thanos, e que o seu toque é a morte. Agora acompanhado por Ebony Maw e os seus conselhos sussurrados, ele quer descobrir a história do seu pai e o seu próprio futuro.

Guardians 3000 #1

Por Dan Abnett e Gerardo Sandoval. Mergulha no meio da acção com os Guardians of the Galaxy originais enquanto eles tentam salvar o universo da ameaça dos Badoon. Mas o que acontecerá quando Vance Astro, Yondu, Martinex, Starhawk e Charlie-27 descobrem algo por detrás dos Badoon, algo pior do que alguma vez podiam imaginar? O futuro está em perigo e a única possibilidade de salvação reside neste grupo improvável de heróis!

Thor #1

Por Jason Aaron e Russell Dauterman. O lendário martelo Mjolnir está na Lua, sem que ninguém o consiga levantar! Nem mesmo Thor! Algo de sombrio afecta o deus do trovão, deixando-o de ser digno de Mjolnir.
Mas agora os gigantes de gelo invadem a Terra, o martelo será erguido e um novo Thor surgirá. Um Thor como nunca visto! Quem é a nova Deusa do Trovão? Nem Odin sabe!

DC para assinatura

Vertigo Quarterly: Yellow #1

Por Steve Orlando, Philip Bond e companhia. Na altura do Outono chega Vertigo Quarterly: Yellow! Uma antologia de vários contos, por alguns dos melhores autores da actualidade numa experiência de associação de palavras e conceitos como só a Vertigo pode fazer.

Dark Horse para assinatura

Alien Vs. Predator: Fire and Stone #1 (de 4)

Por Christopher Sebela e Ariel Olivetti. Enquanto a tripulação mercenária da nave Perses deixa para trás o horror de LV-223, um passageiro revela um novo perigo. E a tripulação cedo descobre estar no meio de uma luta mortal entre Predator e presa!

Baltimore: Wolf and the Apostle #1 (de 2)

Por Mike Mignola, Christopher Golden e Ben Stenbeck. Quando agentes da Inquisição vêm para destruir um lobo, que costumava ser um dos seus homens, eles não têm hipóteses sem o aliado definitivo: Baltimore!

Colder: Bad Seed #1

Por Paul Tobin e Juan Ferreyra. A vida continua para Declan Thomas depois do seu encontro letal com o psicótico Nimble Jack, mas os seus poderes continuam a desenvolver-se, oferecendo-lhe uma profunda ligação com a natureza da insanidade. Mal ele sabe que o malévolo Swivel deseja continuar o que o Nimble Jack começou!

Aliens: Fire and Stone #1

Por Chris Roberson e Patric Reynolds. Durante um violento ataque de xenomorfos, o engenheiro de terraformação Derrick Russell lidera um grupo de sobreviventes desesperados numa nave mineira. Eles esperam escapar às criaturas que destruíram a colónia, mas terão de enfrentar horrores tanto no espaço, como no estranho planeta onde se despenham.

Image

East of West: The World (One-Shot)

Jonathan Hickman e Nick Dragotta. O número especial que contém toda a informação referente ao mundo de East of West, parte atlas, parte enciclopédia, parte guia cronológico e resumo.
Para melhor entender o complexo e intricado universo criado por Jonathan Hickman.

Masterplay (One-Shot)

Por James Harvey. Um jovem decide abandonar a sua namorada, depois de ser submetido a uma técnica médica revolucionária, que modifica drasticamente o aspecto físico do corpo humano. Será que modificar a aparência física modifica o interior das pessoas?

Image para assinatura

Wytches #1

Por Scott Snyder e Jock. Ao longo dos séculos, em todo o mundo, homens e mulheres foram queimados, afogados, torturados, aprisionados, perseguidos e assassinados por bruxaria. E todos eram inocentes. Eles morreram protegendo um terrível segredo: bruxas, as verdadeiras bruxas estão por aí. Elas são antigas, esquivas criaturas mortíferas, que raramente são vistas. E que ainda mais raramente, se sobrevive a um encontro com elas.

IDW para assinatura

Dungeons and Dragons: Legends of Baldur’s Gate #1

Por Jim Zub e Max Dunbar. Passaram-se muitos anos desde que os heróis originais de Baldur’s Gate salvaram a cidade e os reinos. Agora uma nova ameaça surge e um improvável grupo de inadaptados são lançados numa aventura com Minsc, o lendário Ranger benfeitor, com um coração de ouro, cérebro de chumbo e um hamster de elevada sabedoria.

Avatar para assinatura

War Stories #1

Por Garth Ennis e Matt Martin. Novas histórias de guerra pelo génio de Garth Ennis, em que espelha com grande detalhe os horrores da guerra. A primeira história é sobre os primeiros pilotos de bombardeiros e as suas missões extremamente difíceis.

Vertical para assinatura

Witchcraft Works Vol. 01

Por Ryu Mizunagi. uma comedia romântica com elementos de fantasia sobrenatural. Passado nos tempos modernos, onde a magia e poderes sobre-humanos moldam a vida dos alunos de uma escola.

Cinco comics que fazem parte da minha vida

Quem acompanha – mesmo que ocasionalmente – o que vou escrevendo, sabe que os comics de super-heróis nunca foram o meu género de eleição. Mesmo assim, deixo de seguida uma lista de cinco histórias sem as quais eu não seria o mesmo leitor.

Da minha infância/juventude, tenho memórias esparsas das revistas de super-heróis que li. Tenho uma vaga ideia de revistas brasileiras (da Ebal?) a preto e branco e grande formato — Marvel ou DC? —  vistas em casa da minha madrinha; recordo uma ou duas edições do Homem-Aranha, da Agência Portuguesa de Revistas, que tive; lembro uns formatinhos (emprestados) deste mesmo herói; evoco duas edições brasileiras de melhor qualidade – Superman e Lanterna Verde/Arqueiro Verde, que ainda estão algures aqui por casa – compradas num pacote-mistério ((Nos anos 1980/1990, em Portugal, havia sobras de revistas de BD que não eram destruídas; eram vendidas mais tarde, em envelopes surpresa, com exemplares sortidos.)).

E, no que aos super-heróis diz respeito, no formato papel, pouco mais…

Até que, em 1983, pela primeira vez, uma BD de super-heróis marcou-me profundamente, sendo mesmo uma das que “me fizeram dar o salto da BD infanto-juvenil de aventura e humor para uma outra de temática mais adulta” ((Citando o que escrevi há dias, a propósito das 50 edições de BD que fizeram de mim o leitor que sou hoje, em 50 Anos, 50 Edições: (II) 1983-1985)).

Era a primeira parte de Snowbirds don’t fly, uma aventura da dupla Green Lantern/Green Arrow, em que este último descobre que Speedy é um drogado. Lida nas páginas do Mundo de Aventuras – revista em que fiz a minha formação aos quadradinhos – mas nunca concluída, deixou-me durante (muitos) anos suspenso do seu desfecho.

Teria ainda de esperar pelo final dos anos 80, quando vi na montra da Bertrand, no Centro Comercial Brasília, uma edição que me chamou a atenção. “O primeiro impacto surgiu pelo aspecto diferente”: era a edição brasileira, formato comic, da Editora Abril do primeiro volume de The Dark Night Returns. Depois, “o traço e a fabulosa história de Miller fizeram o resto…” ((In 50 Anos, 50 Edições: (III) 1986-1993))

Foi a partir daí que comecei a prestar mais atenção ao género e, mesmo não me tendo tornado um grande leitor de comics, vou tentando acompanhar o que de mais interessante – do meu ponto de vista… — vai acontecendo.

É por estas razões – e outras mais – que estas duas histórias estão na lista de cinco comics de super-heróis que fazem parte da minha vida e sem os quais eu não seria o mesmo leitor.

Green Lantern/Green Arrow: Snowbirds don’t fly

De Denny O’Neil e Neal Adams. Datada da década de 1970, está incluída num arco mais largo que representam um dos primeiros e maiores expoentes de realismo que os comics de super-heróis já assumiram. Com os Estados Unidos vergados ao pesadelo da guerra do Vietname, e com a sombra dos assassinatos de John Keneddy e Martin Luther King, O’Neil e Adams levam os seus heróis numa viagem por uma América profunda, repleta de contrastes e de podres, bem longe dos ideais de igualdade do sonho americano e das divisões absolutas bem/mal ou certo/errado com que Green Lantern via o seu mundo.

Batman: The Dark Night Returns

Batman Dark Knight Returns
De Frank Miller, Klaus Janson e Lynn Varley. O regresso de Batman após dez anos reformado, para fazer face à corrupção crescente e a um bando que aterroriza a sua sempre querida Gotham, num espelho do desencanto americano com a governação Reagan, mostrado como uma caricatura nesta obra.
Uma história dura, violenta, explosiva, narrada a um ritmo absorvente, pautado pela cadência da informação televisiva que vai conduzindo o relato e mantendo o leitor a par das diferentes evoluções e pontuada por momentos fortes – como o combate com o líder mutante na lixeira ou o confronto Batman/Superman.
Se a violência nela mostrada pode hoje ser considerada normal, quando The Dark Night Returns surgiu nunca tinha sido visto nada assim nos comics e estes nunca mais foram os mesmos.

Daredevil: Born Again

Daredevil: Born Again
De Frank Miller e David Mazzucchelli. Uma das raras bandas desenhadas que comprei nos formatinhos brasileiros, é uma obra complexa e muito estruturada, assente na exposição controlada de emoções e com uma violência invisível mas latente, rara em histórias de super-heróis, devida ao tom extremamente realista que exibe.
Born Again é o relato da queda de Daredevil/Matt Murdock, perdendo namorada, amigos, emprego, identidade ou posição social, devido a um plano de vingança de Kingpin, mas vai bem mais além disso, transfigurando-se na narrativa da redenção do herói, mais forte e mais capaz, numa notável declaração de humanidade e de confiança no melhor do ser humano.
Frank Miller – que passei a acompanhar depois de The Dark Night Returns — constrói uma narrativa forte e densa, com intervenientes marcantes, bem acompanhado no desenho e na planificação por David Mazzucchelli que explana o tom sombrio da narrativa e a escuridão que Murdock foi obrigado a atravessar.

Superman: For All Seasons

De Jeph Loeb e Tim Sale. Esta mini-série seduziu-me primeiro pelo traço límpido e fino de Tim Sale e pelas cores claras e quentes que o servem – mais próximos da BD franco-belga que é a minha praia…?
Depois – mas mais importante – veio a história de Jeph Loeb. O recontar da origem de Superman, num relato que oscila entre este e o pacato e crédulo Clark Kent, na passagem de Smalville para Metropolis, através das relações fortes que estabeleceu com os que lhe eram mais próximos, num percurso iniciático em que foi descobrindo as suas forças mas, também, principalmente, as suas fraquezas e as suas limitações, para aprender a superá-las, antes de se transformar no maior herói da Terra.

Marvels

De Kurt Busiek e Alex Ross. O relato do aparecimento dos primeiros super-heróis Marvel, vistos tanto como “maravilhas” – no trocadilho com o original “marvels” – quanto como ameaças para os cidadãos comuns, pelo olhar apurado e competente de um fotógrafo rendido aos novos seres.
Narrativa humanizada das histórias de super-heróis tradicionais, balizada por momentos fortes da história dos comics Marvel, é extremamente valorizada pelo traço híper-realista de Alex Ross que confere outro impacto e força à bem urdida história de Kurt Busiek.


Pedro Cleto escreve habitualmente no blogue As Leituras do Pedro.