Categoria: Banda Desenhada

Estantes #3

O título desta nova rubrica, “Estantes”, adequa-se bem à minha “biblioteca” de banda desenhada porque na realidade esta não existe como corpo único. Está espalhada em estantes de madeira no quarto e na sala e em estantes de metal na garagem, segundo ordens afectivas, de formato e do acaso. Edições alternativas e populares ou simplesmente estranhas convivem todas pacificamente umas com as outras, e estas com o resto dos livros de arte, literatura e afins, cd’s e discos em vinil.

Os comics e as revistas, que por conveniência de sequência numérica tendem a ficar juntos, são ainda os meus formatos favoritos para ler bd. Versam várias temáticas e provêm de diversas editoras, desde a canadiana Wee Bee à argentina Record, passando pela brasileira VHD, pelas portuguesas Portugal Press, Bertrand, Edibanda, Agência Portuguesa de Revistas, e um grande etc…

Contudo, nos últimos anos, o formato álbum começou a ganhar mais predominância pela necessidade do papel melhor, da edição cuidada e definitiva de uma determinada série, que replica em parte o apelo burguês que os velhos maoistas sentem com o passar do tempo. É disto exemplo a nova edição do Prince Valiant do Hal Foster pela Fantagraphics, a cores e em grande formato; ou as edições integrais, na versão original, de Bernard Prince, Mort Cinder de Oesterheld e Breccia ou L’Ile au trésor de Milani e Pratt, todas em capa dura.

Mas não é por já ter estas edições definitivas, cujos textos inclusos revelam novas perspectivas de leitura, que deixo de querer adquirir números do Tintin belga com capas do Vance ou os da Misterix argentina.

Garagem de André Azevedo

Na garagem encontra-se a maior parte da colecção, toda guardada em caixas transparentes de plástico com boa estabilidade térmica e sem a mínima preocupação com a estética do conjunto. Aqui a organização é necessariamente mais rígida e as caixas estão separadas por revistas, álbuns e comics, e dentro destas categorias, tal como nas estantes de casa, por tamanhos para que os danos físicos, inevitáveis com o tempo, sejam menores.

Falta organizar uma dezena de caixas onde todas as categorias se misturam e onde se acumulam títulos já lidos mas ainda não arrumados, os que ainda esperam leitura ou os que estão separados por já serem edições que deixaram de fazer falta na colecção: números repetidos ou versões brasileiras, espanholas e portuguesas de comics.

E é assim, em traços muito largos, que está guardada/organizada a minha colecção de banda desenhada, sempre com o apoio de indispensáveis e intermináveis listas de números adquiridos e por adquirir, ainda e sempre redigidas à mão em pequenos e práticos cadernos quadriculados que vão comigo para quase todo o lado.

Estante André Azevedo

Estante André Azevedo

Estante André Azevedo

Estante André Azevedo


André Azevedo escreve habitualmente no blogue A Garagem.

Sugestões #49

Vasco

Em mês de mundial, em vez de vitórias morais apresento uma lista de selecções que para animar o espírito de qualquer adepto de BD. A destacar Guardians of the Galaxy Annual #1 por Brian Michael Bendis e Frank Cho na Marvel, Loverboys HC por Gilbert Hernandez na Dark Horse, Fade Out #1 por Ed Brubaker e Sean Phillips na Image, Collector HC por Sergio Toppi na Boom! e Heroic Legend of Arlan por Yoshiki Tanaka e Hiromu Arakawa na Kodansha. Aproveitem para passar na livraria para descobrir as novidades deste mês que ainda por aqui andam e preparar a selecção ideal de BD para levar para as férias. Boas leituras!

Marvel para assinatura

Superior Spider-Man #32

Por Dan Slott, Christos N. Gage, Giuseppe Camuncoli e Adam Kubert. O caminho para o Spider-Verse começa aqui! Num número especial, que inclui uma aventura ilustrada pelo incrível Adam Kubert, como é que o Superior Spider-Man está em acção? O que é que ele está fazer? Onde ele está? E mais importante, em que época ele está?

Guardians of the Galaxy Annual #1

Por Brian Michael Bendis e Frank Cho. A maioria dos dias no espaço não são o que se pode chamar de normal, mas hoje tudo está perfeitamente “normal”. Isto é, até um helicarrier da SHIELD aparecer de repente no espaço! Há alturas, em que se tem de ir fora da sua jurisdição para resolver os problemas, mas isto é um exagero! E no meio da confusão temos Peter Quill, ou Star-Lord para os amigos e a gangue do costume, os notórios Guardians of the Galaxy! Que as explosões comecem!

Wolverine Annual #1

Por Elliott Kalan e Jonathan Marks. Uma simples viagem pai, filha adoptiva com o seu respectivo filho adoptivo. Wolverine e Jubilee levam Shogo para férias no campismo. Mas como temos o Wolverine no meio da floresta, o que pode correr mal? Talvez tudo! O prenúncio da mini-série Death of Wolverine é aqui.

DC para assinatura

Multiversity #1

Por Grant Morrison, Ivan Reis e Joe Prado. Eis as 52 Terras alternativas do Multiverso da DC! Preparem-se para conhecer a Vampire League da Terra-43, os Justice Riders da Terra-18, Superdemon, Doc Fate, os super-filhos de Superman e Batman, os devastadores Retaliators da Terra-8, os Atomic Knights of Justice, Dino-Cop, Sister Miracle, Lady Quark, a Legion of Sivanas, os Nazi New Reichsmen da Terra-10 e o mais recente e maior super-heroi da primeira Terra: Tu!
Consistindo de seis aventura completas, cada uma passada num diferente universo paralelo, mais uma história em duas partes para estabelecer o enredo e um guia para os diferentes mundos do Multiverso. No primeiro número, o President Superman da Terra-23 descobre uma ameaça para toda a realidade, tão apocalíptica que será necessário uma equipa de heróis de todo o Multiverse para o enfrentar! Mas com uma variedade de Terras alternativas por onde escolher, onde qualquer variação é possível, pode alguém ter a esperança de resistir contra o ataque devastador do mal definitivo e do ódio eterno na forma de um ex-defensor cósmico com poderes inimagináveis?

Dark Horse

Loverboys HC

Por Gilbert Hernandez. Na cidade de Lagrimas, ao estilo da pequena cidade de Palomar, um jovem “loverboy” tem uma tórrida relação com uma mulher, que foi em tempos a sua professora do sétimo ano, enquanto três jovens raparigas conspiram para envenenar a população da cidade.
Uma história de paixão no estilo do inconfundível Gilbert Hernandez.

Dark Horse para assinatura

Pop #1 (de 4)

Por Curt Pires e Jason Copland. E se as estrelas pop e as celebridades mundiais fossem literalmente produtos, criados pelas mais ricas e as mais depravadas mentes do mundo? E se uma dessas estrelas conseguisse escapar?

Usagi Yojimbo: Senso #1 (de 6)

Por Stan Sakai. Vinte anos no seu futuro, Miyamoto Usagi luta como general pelo Lorde Noriyuki contra o terrível e traiçoeiro Lorde Hikiji. Na fúria da batalha final, um foguete de metal despenha-se e dentro está um inimigo que nenhum lado poderia imaginar. Testemunhem o destino final de Usagi Yojimbo e companhia, neste épico samurai com um surpreendente twist de ficção-científica.

Image

Displaced Persons

Por Derek McCulloch e Anthony Peruzzo. São Francisco, século XX, em 1939, um detective privado procura um herdeira desaparecida. Em 1969 dois irmãos gémeos encaram um roubo de drogas de lados opostos da lei. Em 1999, uma mulher lentamente se apercebe do terrível perigo que tem em casa. O que há de comum com estas pessoas? Um pouco de crime, homicídio, amor, amizade, traição e viagens no tempo!

Image para assinatura

Fade Out #1

Por Ed Brubaker, Sean Phillips e Elizabeth Breitweiser. Hollywood, 1948, um filme noir está preso em infindáveis filmagens. Um escritor amaldiçoado com pesadelos da guerra e um perigo secreto. A morte suspeita de uma estrela em ascensão. E um maníaco dono de um estúdio e o seu chefe de segurança fazem o que for necessário para manter as câmeras a rolar antes que os dias do bom pós-guerra terminem.

Wayward #1

Por Jim Zub, Steve Cummings and John Rauch. Rori Lane está a tentar iniciar uma nova vida, quando ela se reúne com a sua mãe no Japão. Mas criaturas antigas escondidas nas sombras de Tóquio sentem algo escondido, ameaçando tudo que ela adora.
Será que Lori consegue desvendar os segredos do seu poder, antes que seja tarde demais?

Avatar para assinatura

In the House of the Worm #1

Por George R. R. Martin, John Jos Miller e Ivan Rodriguez. Debaixo de uma cidade arruinada, num planeta esquecido, existe um mundo de intriga e vingança. Quando Annelyn é envergonhado, em frente dos seus amigos da nobreza, pelo Meatbringer, põe em andamento um plano de vingança. Mas a terrível verdade sobre o temível White Worm torna o seu plano em desgraça de forma catastrófica!

Boom! Studios

Collector HC

Por Sergio Toppi. Longe dos leilões da elite, o Collector procura raros e misteriosos artefactos de todo o mundo. Ele tanto está em casa nos salões de Paris, como nas selvas do Bornéu. Decorrido durante o colonialismo do século XIX, o Collector é uma aventura deliciosa de capa e espada.

Boom! Studios para assinatura

Fairy Quest: Outcast #1

Por Paul Jenkins e Humberto Ramos. As aventuras de Red e Mister Woof apenas começaram. Em Fablewood todas as histórias que foram alguma vez contadas, vivem lado a lado. Mas é um lugar maléfico, governado pelo terrível Mister Grimm e os seus asseclas da Think Police. Red e Woof querem escapar para um mundo onde a amizade não é proibida, mas nada os irá preparar para o que os aguarda na Dark Forest.

Drawn & Quarterly

Even More Bad Parenting Advice

Por Guy Delisle. A continuação das experiências de Guy Delisle no mundo das frustrações e alegrias de ser pai. A não perder!

Kodansha

Heroic Legend of Arslan Vol. 01

Por Yoshiki Tanaka e Hiromu Arakawa, o criador de Fullmetal Alchemist. Apoiado por apenas alguns companheiros, incluindo o filósofo/espadachim/estratéga Narsus e o seu jovem servo Elam, Pharangese, uma distante e fria sacerdotisa e Gieve um músico itinerante e vigarista, Arslan tem de sobreviver contra grandes desvantagens e juntar um exército forte o suficiente para libertar sua nação do exército de Lusitania, que é liderado pelo enigmático guerreiro conhecido como Silvermask!

Jorge Coelho, desenhador de vilões

Se já não é novidade haver desenhadores portugueses a desenhar para a Marvel, continua a ser notícia de cada vez que preparam um novo trabalho. O caso mais recente é Jorge Coelho, que está a desenhar uma história de Loki, Agent of Asgard.

Este não é, no entanto, o primeiro trabalho de Coelho para a Marvel, uma meta que muitos desenhadores da sua geração perseguem.

Por isso, em entrevista para a preparação deste texto, Jorge Coelho revelou que anda “a mostrar portfólios há já uns anos” até que, “finalmente em Novembro de 2012, no Festival de Lucca, Itália, C.B. Cebulski”, caça-talentos da casa das Ideias o viu e achou que o seu traço “estava no ponto para trabalhar para a Marvel”. “Passaram-se alguns meses” de expectativa, entretanto desenhou “Polarity, para a BOOM! Studios,” e, por fim, foi-lhe proposto “o projecto Venom” que aceitou “sem piscar os olhos”.

Venom #40
Venom #40
Venom #40
Venom #40.

“O projecto Venon” era Mania, um arco em três partes escrito por Cullen Bunn, que foi publicado na revista do simbionte, entre os números #40 e #42. Nele foi introduzido o simbionte feminino Mania, que deu nome à história.

Apesar de declarar que não está “completamente satisfeito” com o seu trabalho em Venon, em parte devido a “alguma pressão auto-imposta que deve ter contribuído para tal”, acredita que o resultado influenciou o actual convite para participar em Loki, Agent of Asgard.

Será, então, Jorge Coelho um desenhador com queda para vilões ou será simples coincidência? É o próprio que diz que Loki a seguir a Venon talvez se deva ao facto de “gostar de carregar em negros expressivos” com os quais consegue “transmitir uma atmosfera escura”.

A estes dois projectos, de que tem “gostado bastante”, aponta apenas um senão: “pecam por pequeninos”. E confessa que gostaria, “no futuro, de ter projectos maiores, de habitar títulos e personagens durante mais tempo”.

Sobre aquele que agora o ocupa, menciona que “Loki, Agent of Asgard é uma volta gira ao personagem Loki, depois do Ragnarok, o Apocalipse da mitologia nórdica. Loki morreu e reincarnou no seu próprio corpo, pós-adolescente, em busca de redenção… ou então é apenas mais um dos seus esquemas, quem sabe?”

A história em que está a trabalhar, é “uma espécie de intervalo dentro do principal arco narrativo do título”, e será publicada “em Setembro”, nos números #6 e #7 da revista.

Ainda não pode adiantar muito sobre a narrativa em si, pois apenas recebeu “metade do script”. Neste momento, está a “procurar referências e a tirar as dúvidas normais que surgem durante o processo”. Depois, vai “apresentar layouts que serão comentados” e de seguida ocupar-se-á da arte-final. O processo conclui-se com a “digitalização, uns toques finais em computador e o envio dos ficheiros”. Em suma: “é um processo trabalhoso, mas simples”.

Como sempre que trabalha “tanto em banda desenhada como em ilustração editorial e publicitária, durante a produção” tem sempre de “apresentar esboços e receber de volta alterações. Serem muitas ou poucas depende da equipa e das particularidades do projecto e é mais ou menos imprevisível”.

Se trabalhar para a Marvel dá sempre outra visibilidade, esta é apenas mais uma etapa de um percurso já com alguns anos que, segundo Jorge Coelho “tem sido natural, como desenrolar um novelo. Um trabalho puxa outro, reforça o portfólio e irá trazer melhor trabalho”.

Membro do The Lisbon Studio, costuma comentar com os seus colegas que “publicar não é difícil. Ser pago para tal é onde a porca torce o rabo”. E, no seu trajecto internacional, também tem tido experiências dessas.

O primeiro projecto de maior visibilidade em que participou foi Forgetless, para a Image Comics, uma mini-série em cinco números. Tudo começou com “um repto de Nick Spencer para um conceito de três histórias diferentes que se fundem no último episódio, numa festa” que deu nome à narrativa. “Como a Image Comics, trabalha apenas com percentagem de royalties e o projecto não foi um sucesso de vendas, não rendeu monetariamente”. Mas, neste meio, não é apenas o dinheiro que conta e Coelho assume que Forgetless, já compilado num TPB, “foi o primeiro projecto a dar exposição geral” ao seu trabalho, “o que versus o nada anterior foi um progresso”.

Polarity #1
Polarity #1.

Apesar disso, seguiu-se “um hiato, não caiu nenhum trabalho” e acabou por aceitar o convite “para participar no colectivo online Brand New Nostalgia” para o qual teve de executar “cerca de 40 ilustrações em desafios semanais”, que serviu para renovar o seu portfólio e lhe proporcionou uma exposição acrescida, da qual, “certamente, nasceu o contacto de Eric Harburn, da BOOM! Studios”. Dos sucessivos contactos e com pranchas de teste acabou “por conquistar Polarity”, um argumento de Max Bemis, desenvolvido ao longo de quatro comics entre Fevereiro e Maio de 2013, entretanto reunidos num único volume.

Sobre Polarity, Jorge Coelho assegura que “A ideia era muito interessante: Tim um hipster desconsolado descobre que as suas crises bipolares despertaram super-poderes; depois, tudo o que se sucede é estranho”. Algo que lhe agradou, pois gosta “de estranho”. E continua: “o escritor, vocalista da banda Say Anything, trouxe também algum do seu público musical para a banda desenhada, o que contribuiu também para ser um projecto diferente e a todos os níveis bem-sucedido”. Em termos pessoais acredita que conseguiu explorar o seu trabalho “em direcções diferentes do que estava habituado”, o que foi decisivo para “fazer a ponte entre o registo mais europeu e o americano”.

Zero #8.
Zero #8.

Entre Venon, datado de Novembro 2013/Janeiro de 2014, e o actual Loki, Agent de Asgard, “do qual ainda não há autorização para revelar imagens” ainda desenhou “o número #10 de Suicide Risk”, escrito por Mike Carey, de novo para a BOOM! Studios – série da qual Filipe Andrade desenhou recentemente o número #14 – e o oitavo Zero, num regresso à Image, um argumento de Ales Kot que considera, “em termos criativos, talvez o projecto mais recompensador até à data…”

E termina, reforçando uma ideia: “Tudo natural, como desenrolar um novelo”.


Pedro Cleto escreve habitualmente no blogue As Leituras do Pedro.

Filipe Andrade regressa

O desenhador português Filipe Andrade, foi escolhido pela Marvel para desenhar Figment, uma banda desenhada integrada no universo Disney Kingdoms. O primeiro número desta mini-série estará à venda nos Estados Unidos já no próximo dia 4 de Junho (chega à Mundo Fantasma pouco depois).

Este é mais um passo na criação de projectos conjuntos entre a Marvel e a Disney, na sequência da compra da editora por esta última, algo que, com certeza, veremos cada vez mais nos próximos tempos e com uma amplitude que muitos não imaginariam, com cruzamentos entre os vários universos, a exemplo do que aconteceu no verão passado com a participação dos Avengers num episódio televisivo de Phineas e Pherb.

Mas não é esse o tema deste texto, pois as ambições de Figment, projecto comum da Marvel e da Walt Disney Imagineering, são outras.

Mini-série de cinco episódios desenhada por Filipe Andrade, com capas de John Tyler Christopher (ficando as variantes a cargo de Andy Gaskill e Tom Morris), foi escrita por Jim Zubkavich, criador de Skull-Kickers (Image Comics), Samurai Jack (IDW) ou Amanda Waller (DC Comics), este último com o também português André Coelho. As personagens principais são Dreamfinder, um excêntrico inventor e intrépido explorador, e o dragão por ele criado, que dá nome à série, cujas origens vão ser agora conhecidas. Refira-se, a propósito, que ambos são mascotes bastante populares do percurso Journey into Imagination, do Epcot® Theme Park, no Walt Disney World, onde naturalmente virão a estar à venda exemplares desta banda desenhada, o que lhe confere uma visibilidade acrescida.

Em declarações exclusivas para a escrita deste texto, Filipe Andrade revelou que Figment “surgiu entre conversas e projectos que foram acontecendo entre o final do ano passado e o início deste, com o editor William Rosemann”, entre os quais se conta nomeadamente a mini-série Seekers of the Weard (2014), integrada no universo Disney Kingdoms e igualmente desenhada por Andrade.

Concretizado o convite, foi aceite de imediato, mesmo sendo à partida “um livro para todas as idades”, o que implicou que o desenhador se tivesse de adaptar pois a sua praia “não é propriamente esta”.

Na verdade, conforme específica, “a história é menos vertiginosa (que os habituais comics de super-heróis), sem grandes momentos de acção ou quebras de narrativa. É um conto fantástico muito Disney”. Tudo isto obrigou-o a fazer alguns ajustes no seu estilo habitual mas, “mais do que o traço” que surge claramente mais caricatural e de certo modo próximo do desenho animado, foi “o layout de página” que implicou maiores cedências, pois este “acaba por ser mais clássico.” E remata: “mais teatro do que cinema”!

Sendo óbvio que as personagens principais “já estavam mais ou menos definidas”, Filipe teve de se empenhar especialmente na criação “do ambiente da história e das personagens novas” e reconhece que “essa tem sido a melhor parte: criar o mundo onde os personagens se envolvem e desenvolvem”, inexistente até agora.

A história começa com “um cientista, chamado Blair, com muita imaginação mas pouco disciplinado, que trabalha na Academia de Ciências de Londres, em 1910”, no período pós-revolução industrial. Como é habitual nestes casos, “um dia uma das suas experiências explode e chama a atenção do chairman da instituição que o passa a manter debaixo de olho”.

Apesar disso, consegue reconstruí-la “e quando liga novamente a máquina faz gerar um produto da sua imaginação: Figment, uma espécie de dinossauro bebé, de cor púrpura”. Este revelar-se-á muito curioso e corajoso e com ele os leitores serão levados a locais fantásticos com habitantes estranhos, desafios inesperados e grandes sonhos, pois a explosão tem outras consequências, nomeadamente a criação de “uma passagem para um mundo alternativo, quente e steampunk, ao qual acabarão por ir parar” e onde se desenrolará a maior parte da acção, como será possível constatar a partir de Junho.

Filipe Andrade

Filipe Andrade

Filipe Andrade

Filipe Andrade

Filipe Andrade

Filipe Andrade

Filipe Andrade, que trabalha para a editora desde 2010, reconhece que este “é um projecto menos Marvel e mais à imagem Disney”. Mas salienta “o facto de ser um arco de história com princípio, meio e fim, o que é muito importante, pois os leitores têm oportunidade de ver e ler a história toda com a mesma arte”. No caso, a sua, tal como aconteceu em 2011 com a adaptação da novela de Edgar Rice Burroughs que esteve na origem do filme John Carter de Marte.

Sobre o trabalho do desenhador luso, o argumentista Jim Zubkavich afirmou em entrevista que ele “conseguiu captar e transmitir o estilo steampunk do livro juntamente com a inocência de Figment”, acrescentando que “o seu traço revela a personalidade e a emoção que ele aplica no trabalho”.

Filipe Andrade, recorde-se, é o desenhador português com mais obras feitas para a Marvel, desde que em 2010 foi seleccionado por C. B. Cebulski na sequência de uma análise de portfólios.

Para além dos já citados John Carter: A Princess of Mars (2011), com argumento de Roger Langridge, e Seekers of the Weard (2014), escrita por Brandon Seifert, foi igualmente o responsável pelo grafismo de uma outra mini-série, Onslaught Unleashed (2011), escrita por Sean McKeever e protagonizada conjuntamente pelos Young Allies (com Nomad, Spider-Girl, Gravity, Toro e Firestar) e também os Secret Avengers (Captain America, Black Widow, Moon Knight, Beast, Ant-man e Sharon Carter).

Para além disso, o traço personalizado de Filipe Andrade, anguloso e esguio, assumidamente avesso à manutenção das proporções do corpo humano, em nome da dinâmica das cenas, deixou a sua marca igualmente nos comics #9 a #12 da fase recente da Captain Marvel, escrita por Kelly Sue DeConnick e Christopher Sebella, e em vários one-shots de Iron Man, Nomad, X-23 ou X-Men.

Mas, com os super-heróis de lado de momento, Filipe Andrade acabou “de começar o terceiro livro desta mini-série” pelo que está concentrado em concluir este projecto. Apesar disso, revela que “em breve haverá novidades” na sua carreira “sobre as quais, no entanto, ainda é cedo para falar”.

As imagens utilizadas são do blogue de Filipe Andrade.


Pedro Cleto escreve habitualmente no blogue As Leituras do Pedro.