Categoria: Banda Desenhada

Top de Vendas de Outubro

Livraria Online

A nossa livraria tem agora disponíveis 3.527 títulos que vão desaparecendo a um ritmo bastante rápido. Neste top de vendas, a quantidade de títulos esgotados reflete isso mesmo, são títulos já difíceis ou impossíveis de voltar a arranjar por cá, têm de aproveitar enquanto há.
A secção de mangá começou agora a ser preenchida e à semelhança dos comics, tratam-se de títulos de armazém, fins de colecções e títulos descontinuados, que servirão principalmente a quem tem faltas. Quem quiser começar colecções, tem milhares de títulos actuais na livraria, basta falar com o Marco ou o Vasco.

  1. Amazing Spider-Man 361 1992 (esgotado)
  2. Amazing Spider-Man 365 1992
  3. Diário Rasgado: 2007/12 HC (esgotado)
  4. Batman/Spawn: War Devil 1994 (esgotado)
  5. Batman: The Long Halloween 2 1997 (esgotado)
  6. Guardians of the Galaxy 1 1990 (esgotado)
  7. New Mutants 1 1983
  8. The Infinity Crusade 1 Foil 1993
  9. X-Men 4 1992
  10. Marvel Super-Heroes: Secret Wars 1 1984 (esgotado)

Grandes capas: Sandman Mystery Theatre 5

Sandman Mystery Theatre 5

Sandman Mystery Theatre foi uma série publicada pela DC/Vertigo de 1993 a 1999, num total de 70 números e um anual (à data deste texto, todos disponíveis na nossa livraria online).O personagem é o Sandman da Golden Age, não confundir com o Sandman mais recente de Neil Gaiman. Os argumentos de Matt Wagner e Steven T. Seagle, junto com a arte — principalmente de Guy Davis, mas também de Vince Locke e Warren Pleece —, fazem desta série uma paragem obrigatória para os apreciadores de film-noir e sempre foi uma das nossas preferidas por aqui. Como incentivo adicional, todas as histórias com princípio, meio e fim, decorrem em arcos de quatro números.
As capas de Gavin Wilson e Richard Bruning são todas magníficas e por si só fariam estes comics merecer um olhar mais atento por parte dos leitores. Destacamos a do número cinco por ser misteriosa e visualmente estimulante.

Grandes capas: Quasar 13

Quasar 13

Quasar foi uma série da Marvel publicada entre Outubro de 1989 e Julho de 1994, tendo chegado ao número 60. Apesar de não ser de primeira linha, teve um conjunto de capas notáveis, designadamente esta de Jim Lee. Também poderíamos destacar as capas do número 18 a 25, 29 (aparentemente uma paródia a Demi Moore), 33, 37, 40, 46 e 50 (holográfica).
Na livraria online temos alguns destes números e outros.

Wonder Woman: Earth One

Argumento de Grant Morrison, arte de Yanick Paquette. DC Comics, 2016.

Ore-se baixinho como a lista de assassinatos de Arya Stark: Batman, Super-homem, Mulher Maravilha. A Santíssima Trindade da DC Comics, os bons velhos amigos, a competição perfeita, e por vezes, um triângulo amoroso. Se há cinquenta anos os primeiros dois eram World’s Finest, a moldura alargou progressivamente para acolher a Mulher Maravilha, e no filme de Zack Snyder, lá está ela a mediar as partes. Bonita, rica, guerreira, e contudo, apenas Xena-a-princesa-guerreira, tecido necrótico de um filme estéril. Que fazer com a personagem nos dias de hoje?

Nascida nos anos 40, Wonder Woman assemelhava-se mais a um produto de laboratório do que a um campeão de sweatshop criado por jovens turcos sem direito a sono. O seu criador, o psicólogo William Moulton Marston, pretendia dela um antídoto à literatura machista do seu tempo, levando muito à letra os estratagemas típicos de exercício de autoridade por parte de adultos em roupas de Carnaval. Em vez de explorar o “querer dominar” subjacente aos marmanjos com capas, explorou o “querer ser dominado”, propondo uma simpática heroína de cordas na mão, disposta a extrair a verdade dos criminosos com o doce à-vontade de uma dominatrix.

A Wonder Woman de Marston foi um sucesso. Como refere Gerard Jones em Men of Tomorrow, várias vezes vendeu mais que as suas contrapartes masculinas, a uma audiência maioritariamente constituída por rapazes (as raparigas preferiam o Super-homem). Porém, tal como muitas invenções da época, a proposta de Marston sofreu, por um lado, as consequências de mudanças na demografia e educação do leitor médio, e por outro, a imposição do Comics Code.

William Moulton Marston acreditava que a mulher, tendo o dobro dos “órgãos geradores de amor” e “mecanismos endócrinos”, tinha um papel salvífico, convicção manifestamente parva que caiu em desuso. Versões posteriores da personagem situaram a força da personagem noutro lado: na sua herança cultural, na segurança da sua sexualidade, nas suas qualidades emocionais, e na sua aptidão para desempenhar papéis semelhantes aos homens. O avião em que se movia, invisível para eludir o militarismo aéreo dos homens, tornou-se kitsch e camp.

Claro que kitsch, camp, e fetichismo são o sal e a pimenta de Grant Morrison. O escritor de Wonder Woman: Earth One especializou-se em revivalismo pós-moderno, opondo-se a tudo o que é cinismo, simplificação grosseira, e psicanálise de vão de escada. Em WW: Earth One, tal como nos seus cinco anos de Batman e no aclamado All Star Superman, o objectivo não é despir a heroína de tralha ridícula e démodé, mas antes justificá-la.

Quando os seus pares da Invasão Britânica se ocuparam da desocultação de tudo o que o puritanismo reprimira, Morrison preferiu os esquizofrénicos capazes de quebrar a 4ª barreira e denunciar a performatividade da ficção. Ser raptado por aliens (diz ele) ajudou a esta mundividência. Depois de uma fase “contracultural” na Vertigo, o grosso do seu trabalho passou a cantar feitos de “supertotems” capazes de ensaiar os nossos medos e aspirações. Se no final dos anos 2000 ajudava Mark Millar na escrita da Liga da Justiça em formato despótico e gingão (The Authority, depois The Ultimates) o militarismo pós-11 de Setembro levou a tendência demasiado longe, e Morrison preferiu escrever putos reguilas e as suas lutas de afirmação (Marvel Boy ou New X-Men).

A meio de década de 00, na fase em que chegou a consultor criativo máximo da DC Comics, dizia nas entrevistas que tinha um caderninho de cem páginas para orientar reboots dos superheróis mais obscuros, e nesses anos, muito deles foram feitos de acordo com este guião. O debutar de WW:EO anos depois dessa fase parece uma réplica sísmica, explicável pelo longo trabalho de preparação do livro. A série junta-se ao longo rol de monografias que a Marvel e a DC Comics ritualmente produzem para o chamado “público alargado”, recontando a história dos heróis centrais em versão actualizada. O projecto All Star teria já tido esta função, tendo Morrison produzido umas das melhores obras da sua carreira, All Star Superman. Ter-se-á gizado um All Star Wonder Woman, mas a oportunidade passou, e recupera-se agora em Earth One.

Morrison volta a colaborar com Yanick Paquette, num estilo a lembrar o anterior Bulleteer (2005). Em Bulleteer, uma rapariga tinha a pele coberta de aço por obra de um marido obcecado com superheroínas. A analogia da objectificação das celebridades na nossa cultura era martelada pelas poses GQ/Maxim pedidas a Paquette. Esse reportório é transformado pelo estudo atencioso do trabalho compositivo de J.H. Williams III em Promethea (1999-2005). Como tem sido hábito na DC Comics, a influência de Alan Moore nota-se mesmo no obverso: Morrison jamais faria igual Mundo de Sofia do ocultismo, mas experimenta uma cover pop.

Em WW:EO, toda a história é um longo flashback do julgamento da Mulher Maravilha. Porquê? Porque como é sobejamente conhecido, a semideusa desafia a hubris e entra em contacto com o mundo exterior, para lá da ilha mítica de Themyscira, onde só vivem mulheres guerreiras em relações lésbicas, e dos homens só se guarda história oral. Os motivos do desafio são ligeiramente diferentes; o confronto do contacto, porém, tem toda a carga política que estava na obra de Marston, e fala-se do Patriarcado como se fala do Gangue da Injustiça.

Além de retomar a obra de Marston avant la lettre, Morrison tenta um segundo passo. Se regressa a narrativa da “criança selvagem” cujas maneiras, ou falta delas, põem em questão a sociedade contemporânea, a introdução da gorda Beth Candy (revisitação de Etta Candy a parecer-se com a Beth Ditto dos Gossip), mostra como Wonder Woman se pode tornar locus de discussão de vários tipos de feminismo. A personagem era comic relief na versão de Marston, mas aqui serve de instrumento de crítica do austero ideal amazónico, perfilado por Hipólita, a rainha das Amazonas. Esqueçam a “morte do pai” freudiano. É preciso matar a mãe também!