Detalhe de um desenho de Filipe Abranches no livro “Fitz…”, editado pela Ao Norte em 2009. O traço está completamente pixelizado tendo perdido todas as suas características.
A resolução a utilizar nas imagens a publicar com impressão em offset (Wikipedia) é um conceito muito simples, mas que infelizmente por algum motivo escapa a autores, editores, designers e gráficas.
O mais vulgar é ser medida em dpi (Dots Per Inch, ou pontos por polegada) e deve ser escolhida adequadamente de acordo com o tipo de imagem e papel utilizado.
Imagens a cores ou cinzentos
Tratando-se de imagens a cores ou cinzentos, é um valor directamente relacionado com o número de linhas a que vai ser impresso o trabalho, lpi (Lines Per Inch, ou linhas por polegada). A relação é muito fácil de decorar: 2x.
Consideremos a situação mais vulgar, um livro impresso a 150lpi — as imagens a cores ou cinzentos terão de ter uma resolução de 300dpi no tamanho final para uma qualidade óptima. Esta relação de 2x é por uma razão matemática fora do alcance deste artigo explicar. Pelo mesmo motivo matemático, se as imagens tiverem mais resolução apenas consomem mais recursos sem rigorosamente nenhum acréscimo de qualidade; se tiverem menos resolução, o trabalho não terá toda a qualidade que poderia; se tiverem muito menos resolução, as imagens aparecerão pixelizadas (aos quadrados) e mais vale estarem quietos.
Esse efeito de pixelização pode ser visto na primeira fotografia. Toda uma cadeia de produção falha quando o resultado é este, o autor devia ter enviado imagens com resolução suficiente (pode ter enviado, mas o livro ter sido paginado com imagens de baixa resolução), o designer devia ter verificado a resolução das imagens, o editor devia ter visto provas e detectado o desastre e por fim, se por algum motivo ninguém viu nada, algo como este resultado nunca poderia ter escapado à gráfica, logo na fase dos fotolitos (para não dizer antes), muito antes da impressão.
Balonagem de Pedro Burgos no livro “Europe 1:20´000´000” editado pela Kabinett.Exemplo de balonagem manual de Fernando Relvas no livro “L123” editado pelo SIBDP em 1998.Exemplo de balonagem por computador no livro “Palestina” editado pela MaisBD/Mundo Fantasma/Devir em 2004.
A relação entre LPI e DPI é muito fácil de decorar: 2x.
Como referência podem utilizar a seguinte tabela, tendo em conta que existem milhares de qualidades e variantes de papel. Uma boa gráfica pode e deve aconselhar o número de linhas a imprimir, mas muitas julgam que quanto mais linhas mais qualidade o que não é verdade. Por exemplo, imprimir a 150lpi em papel de jornal é uma receita para o desastre, pois esse papel é altamente poroso e os pontos demasiado juntos acabam por crescer e aglomerar-se (entupir, no jargão gráfico) e todo o detalhe da imagem é perdido.
Imagens a cores ou cinzentos
Papel
lpi
dpi
Jornal
90
180
Tipo fotocópia
133
266
Mate (bom)
150
300
Brilhante (bom)
175
350
A banda desenhada dificilmente beneficiará de uma impressão a mais de 175lpi (200lpi e mais, utilizada um livros de fotografia de alta qualidade e obras do género).
Imagens a preto
Não confundir com as imagens acima que têm uma gama de tons de cinzento. Aqui tratam-se de imagens em que apenas existe preto e branco, somente esses dois valores. Estas imagens têm de ser tratadas de uma forma completamente diferente. São digitalizadas em bitmap com o máximo de resolução óptica disponível até 2540dpi no tamanho final ((Esta regra não se aplica à maior parte da chamada impressão digital, que não passa de fotocópia mais elaborada que antigamente. Uma resolução habitual neste processo é 400dpi e sendo o máximo disponível, não há milagres.)). Mais resolução não vale a pena por dois motivos: Primeiro o olho humano já não distingue a diferença, segundo e não é por coincidência, trata-se da resolução máxima processada pelos RIP. É aceitável uma resolução até um mínimo de 1200dpi, menos do que isso e começam a ser visíveis “escadas” no traço e lá se vai a subtileza.
Balonagem de Pedro Burgos no livro “Airbag e Outras Histórias”, edição MaisBD/Mundo Fantasma.
Claro que a balonagem de material a cores ou a cinzento apresenta o seu próprio conjunto de problemas, pois temos a necessidade de uma resolução para as imagens e de outra para o texto. Tentarei explicar isso num artigo futuro, entretanto se tiverem dúvidas, coloquem-nas nos comentários responderei o melhor que souber.
“Depois de ter lançado obras tão fascinantes quanto Alguns Dias com Um Mentiroso, Aqueles Que Te Amam (ambos de Étienne Davodeau) ou Mundo Fantasma (obra-prima de Daniel Clowes)”, diz João Miguel Tavares no Diário de Notícias, “e enquanto se aguarda o fundamental Palestina, de Joe Sacco, a editora colocou no mercado mais dois livros importantes: As Aventuras de Hergé, de José-Louis Boucquet, Jean-Luc Fromental (argumento) e Stanislas Barthélémy (desenhos), e Kafka Desiste! e Outras Histórias, de Peter Kuper”.
De 15 de Maio a 22 de Junho, decorre o Salão Lisboa sob o tema “Fronteiras” no Pavilhão de Portugal da Expo’98. Apresentamos por lá, cinco das edições de banda desenhada mais importantes deste ano: “Kafka: Desiste! E Outras Histórias” de Peter Kuper, “As Aventuras de Hergé” de Bocquet, Fromental e Stanislas, “Palestina Vol. 1: Uma Nação Ocupada” e “Palestina Vol. 2: Na Faixa de Gaza” de Joe Sacco e finalmente “Airbag” de Pedro Burgos.