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Produção gráfica #3

It's a Bird
It’s a Bird de Teddy Kristiansen (argumento de Steven T. Seagle), editado pela DC/Vertigo em 2004.

Quando o livro é impresso a cores ou cinzentos, a balonagem — habitualmente a preto —, necessita de ser tratada separadamente. Os desenhos deverão ter uma resolução que pode ser por exemplo de 300dpi e o texto uma resolução mínima de 1200dpi (ver Produção gráfica #2), adivinha-se facilmente dois ficheiros separados. Esses ficheiros são depois compostos em conjunto num programa de paginação como o Adobe InDesign ou o Quark Xpress. De um modo mais desactualizado, poderiam ser compostos já ao nível do fotolito na gráfica (ou seja enviados separadamente, para o montador da gráfica fazer esse trabalho de forma tradicional).

Balonagem Wolverine 2
Balonagem em ficheiro próprio do comic Wolverine 2, edição em português da Devir, em 1999. No canto superior esquerdo pode ver-se uma marca de acerto.

Este processo deve começar no próprio autor, apesar de ser possível ao editor resolver o problema, com mais ou menos trabalho. Se for um autor 100% digital, pode ter os desenhos a 300dpi e efectuar a balonagem directamente num dos referidos programas de paginação, com uma fonte adequada (e não, não é a Comic Sans). Neste caso, os caracteres são vectoriais e como tal ficam independentes da resolução, sendo impressos com a qualidade (a boa qualidade, espera-se) determinada pela máquina de saída. Nunca balonar no Photoshop ou equivalente e mesmo nunca no ficheiro dos desenhos.

Se for um autor que desenha e balona em papel, uma especialidade e uma arte cada vez mais rara, deve balonar numa folha separada. Em ambos os casos, além de ficar o melhor trabalho possível em termos de obra impressa, também é o correcto para quem um dia seja editado noutro idioma. O editor estrangeiro apenas tem de acrescentar a sua “camada” de texto, estando tudo o resto preparado para a receber com o máximo de qualidade.

The Hive
The Hive de Charles Burns, editado pela Pantheon Books em 2012.

Claro que os livros de Daniel Clowes e Charles Burns das imagens, banda desenhada a cores lisas e contorno a preto bem definido, colocam os seus próprios problemas que tentarei explicar num próximo artigo.
Comic Sans Criminal
What’s so wrong with Comic Sans? (BBC)

Produção gráfica #2

Filipe Abranches
Detalhe de um desenho de Filipe Abranches no livro “Fitz…”, editado pela Ao Norte em 2009. O traço está completamente pixelizado tendo perdido todas as suas características.

A resolução a utilizar nas imagens a publicar com impressão em offset (Wikipedia) é um conceito muito simples, mas que infelizmente por algum motivo escapa a autores, editores, designers e gráficas.
O mais vulgar é ser medida em dpi (Dots Per Inch, ou pontos por polegada) e deve ser escolhida adequadamente de acordo com o tipo de imagem e papel utilizado.

Imagens a cores ou cinzentos

Tratando-se de imagens a cores ou cinzentos, é um valor directamente relacionado com o número de linhas a que vai ser impresso o trabalho, lpi (Lines Per Inch, ou linhas por polegada). A relação é muito fácil de decorar: 2x.

Consideremos a situação mais vulgar, um livro impresso a 150lpi — as imagens a cores ou cinzentos terão de ter uma resolução de 300dpi no tamanho final para uma qualidade óptima. Esta relação de 2x é por uma razão matemática fora do alcance deste artigo explicar. Pelo mesmo motivo matemático, se as imagens tiverem mais resolução apenas consomem mais recursos sem rigorosamente nenhum acréscimo de qualidade; se tiverem menos resolução, o trabalho não terá toda a qualidade que poderia; se tiverem muito menos resolução, as imagens aparecerão pixelizadas (aos quadrados) e mais vale estarem quietos.

Esse efeito de pixelização pode ser visto na primeira fotografia. Toda uma cadeia de produção falha quando o resultado é este, o autor devia ter enviado imagens com resolução suficiente (pode ter enviado, mas o livro ter sido paginado com imagens de baixa resolução), o designer devia ter verificado a resolução das imagens, o editor devia ter visto provas e detectado o desastre e por fim, se por algum motivo ninguém viu nada, algo como este resultado nunca poderia ter escapado à gráfica, logo na fase dos fotolitos (para não dizer antes), muito antes da impressão.

Pedro Burgos
Balonagem de Pedro Burgos no livro “Europe 1:20´000´000” editado pela Kabinett.
Fernando Relvas
Exemplo de balonagem manual de Fernando Relvas no livro “L123” editado pelo SIBDP em 1998.
Joe Sacco
Exemplo de balonagem por computador no livro “Palestina” editado pela MaisBD/Mundo Fantasma/Devir em 2004.

A relação entre LPI e DPI é muito fácil de decorar: 2x.

Como referência podem utilizar a seguinte tabela, tendo em conta que existem milhares de qualidades e variantes de papel. Uma boa gráfica pode e deve aconselhar o número de linhas a imprimir, mas muitas julgam que quanto mais linhas mais qualidade o que não é verdade. Por exemplo, imprimir a 150lpi em papel de jornal é uma receita para o desastre, pois esse papel é altamente poroso e os pontos demasiado juntos acabam por crescer e aglomerar-se (entupir, no jargão gráfico) e todo o detalhe da imagem é perdido.

Imagens a cores ou cinzentos
Papel lpi dpi
Jornal 90 180
Tipo fotocópia 133 266
Mate (bom) 150 300
Brilhante (bom) 175 350

A banda desenhada dificilmente beneficiará de uma impressão a mais de 175lpi (200lpi e mais, utilizada um livros de fotografia de alta qualidade e obras do género).

Imagens a preto

Não confundir com as imagens acima que têm uma gama de tons de cinzento. Aqui tratam-se de imagens em que apenas existe preto e branco, somente esses dois valores. Estas imagens têm de ser tratadas de uma forma completamente diferente. São digitalizadas em bitmap com o máximo de resolução óptica disponível até 2540dpi no tamanho final ((Esta regra não se aplica à maior parte da chamada impressão digital, que não passa de fotocópia mais elaborada que antigamente. Uma resolução habitual neste processo é 400dpi e sendo o máximo disponível, não há milagres.)). Mais resolução não vale a pena por dois motivos: Primeiro o olho humano já não distingue a diferença, segundo e não é por coincidência, trata-se da resolução máxima processada pelos RIP. É aceitável uma resolução até um mínimo de 1200dpi, menos do que isso e começam a ser visíveis “escadas” no traço e lá se vai a subtileza.

Pedro Burgos
Balonagem de Pedro Burgos no livro “Airbag e Outras Histórias”, edição MaisBD/Mundo Fantasma.

Claro que a balonagem de material a cores ou a cinzento apresenta o seu próprio conjunto de problemas, pois temos a necessidade de uma resolução para as imagens e de outra para o texto. Tentarei explicar isso num artigo futuro, entretanto se tiverem dúvidas, coloquem-nas nos comentários responderei o melhor que souber.