Y, The Last Man

Y, the Last Man

Y, the Last Man

Y, the Last Man

Y, the Last Man

Brian K. Vaughan ((Brian Keller Vaughan nasceu em 1976, em Cleveland, Ohio, nos Estados Unidos. As suas primeiras publicações em banda desenhada tiveram lugar a partir de 1997, quando teve breves passagens por títulos da Marvel (X-Men, Spiderman) e da DC Comics (Batman, Justice League of America, Green Lantern ou Swamp Thing). Y, The Last Man (Vertigo, 2002), Runaways (Marvel, 2003), Ex-Machina (Wildstorm, 2004), Pride of Baghdad (Vertigo, 2006) e Saga (Image, 2012) são os principais títulos deste argumentista, já distinguido com 9 Eisner Awards, que também escreveu alguns episódios da série televisiva Lost.)) e Pia Guerra ((Nascida em 1971, nos Estados Unidos, mas tendo cidadania canadiana, Pia Guerra publicou os seus primeiros trabalhos no início da década de 1990, em colectâneas como The Big Book of Urban Legends ou Dark Horse Presents. Em 2002 foi co-criadora, com Brian K. Vaughan, de Y, The Last Man, que lhe valeu dois Eisner Awards. Após terminar esta longa saga, diminuiu drasticamente a sua produção, mas é possível encontrar pontualmente a sua assinatura em Doctor Who, Simpsons’s Treahouse of Horror – em parceria com o seu marido Ian Boothby, também convidado da Comic Con Portugal – ou Spider-Man Unlimited.)), dois dos autores que vão estar presentes na Comic Con Portugal, de 5 a 7 de Dezembro, têm uma obra em comum: Y, The Last Man ((Vaughan, Brian K. e Guerra, Pia (2002) Y, The Last Man. Vertigo. Nova Iorque, Estados Unidos. Obra publicada entre 2002 e 2008, em 60 edições mensais que totalizam quase 1500 páginas, foi posteriormente compilada em 5 volumes.)), uma longa viagem iniciática…

Y, The Last Man

Planeta Terra. 17 de Julho de 2002. Uma misteriosa epidemia dizima em poucos segundos todos os homens e todos os animais machos do planeta.

De um momento para o outro, o planeta perdeu quase metade da sua população global, quase todos os proprietários das maiores fortunas segundo a Forbes, a maioria dos governantes mundiais, dos pilotos, dos capitães de longo curso, dos motoristas de camião, dos presidiários, dos operários das indústrias pesadas, dos soldados e (praticamente?) todos os sacerdotes das mais representativas religiões…

Naquele instante fatal, a maioria dos aviões em voo despenharam-se, os navios em curso perderam o rumo, o trânsito nas grandes metrópoles e vias de acesso tornou-se impossível pela multiplicidade de viaturas acidentadas. Com os governos decapitados, com as forças da ordem paralisadas, sobreviver a todo o custo tornou-se o lema da maioria das mulheres sobreviventes.

 

A essa epidemia sobreviveram Yorick Brown, um jovem, e Ampersand, o seu macaco-capuchinho. No momento da tragédia, o último homem da Terra estava ao telefone com a sua namorada Beth, algures nas planícies australianas e acabava de a pedir em casamento. Encontrá-la passa a ser o seu principal objectivo, embora as circunstâncias o vão obrigar a fazer (múltiplos) desvios.

Partindo ao encontro da mãe – ex-ministra da agricultura, obrigada a assumir a presidência do país – é por ela confiado à agente 355, membro de uma organização secreta, o Círculo Culper, utilizada secretamente pelo governo para missões delicadas. O objectivo é que encontrem a dr.ª Alisson Mann, uma conceituada bioengenheira, com o intuito de que ela descubra por que razão ele e o seu bicho de estimação foram poupados, para a partir daí tentar evitar a extinção completa do ser humano.

Inicia-se então uma longa jornada, primeiro a dois, depois a três, que ao longo de meses- que se transformarão em anos – os levará a cruzarem os Estados Unidos e, mais tarde, mesmo à Austrália, ao Japão e finalmente à Europa, numa busca iniciática.

Em sua perseguição – em diferentes momentos e com diferentes intuitos – vão ter as novas amazonas, entre as quais Hero, irmã de Yorick, apostadas em destruir todas as memórias da passagem dos homens pela terra, um comando israelita chamado pela mãe de Yorick, dissidentes do Círculo Culper ou uma guerreira ninja nipónica a soldo de um misterioso empregador.

Apesar de uma ou outra questão temporal menos bem resolvida – a travessia dos Estados Unidos, feita de carro, mota, comboio, cavalo ou a pé, arrasta-se por muitos meses – a narrativa vai avançando de forma consistente, com sucessivos flashbacks que mostram onde estavam os diferentes intervenientes no momento da tragédia e também situações pontuais do seu passado que explicam as suas opções no presente.

Ao longo das jornadas, vão-se cruzando com sobreviventes, isoladas ou em pequenas comunidades. Algumas delas tentam seguir em frente, vivendo de acordo com aquilo que a nova ordem – ou será desordem? – lhes permite; outras esforçam-se por criar novas estruturas, mais flexíveis e adaptadas aos novos tempos; como sempre alguns grupos tentam aproveitar-se da situação para seu benefício ou para subjugarem outras; finalmente, algumas fazem patéticas tentativas de recuperar o que até aí existia.

Vaughan aproveita estes sucessivos encontros/recontros, para traçar um retrato pouco abonatório do ser humano – e o facto de retratar apenas mulheres não tem nada de sexista – mostrando o melhor e o pior do ser humano, enquanto acompanhamos e aprendemos a conhecer melhor os três protagonistas na busca iniciática de si mesmos e da felicidade e vemos como perante uma situação limite o ser humano tem tendência a mostrar o melhor e/ou o pior de si mesmo.

 

Não por acaso, aliás, escolheu para personagem central um adolescente tardio – deixem-me defini-lo assim – impulsivo, raramente razoável, poucas vezes adulto, o que provoca uma série de situações ambíguas, complicadas, perigosas ou mais do que isso.

Protagonista de uma obra com uma forte tensão sexual – e apesar do muito que é sugerido e mesmo (do pouco) que é mostrado, não é difícil imaginá-la mais explícita se fosse criação europeia – num mundo em que predomina o ódio ao macho, Yorick Brown, curiosamente,  mais do que ser desejado como objecto sexual pelas sucessivas mulheres que vai encontrando, é quase sempre perseguido por ainda estar vivo. Ao mesmo tempo, enquanto amadurece e se torna mais adulto – analisar o seu percurso ao longo da saga é um exercício bem estimulante – a sua posição vai evoluindo da jura de fidelidade a todo custo à sua namorada, que julga algures no deserto australiano para se ir aos poucos deixando atrair e seduzir por várias das mulheres com quem se vai cruzar, numa mudança progressiva e subtil que demora algumas centenas de páginas até ser consumada.

 

O conjunto, com inúmeras referências à cultura pop e à cultura norte-americana que ajudam a sustentá-lo e lhe dão credibilidade, depois de um início forte e acelerado, vai perdendo em ritmo o que ganha em complexidade, até ao final, suficientemente explícito e credível para dar (uma enorme) coerência ao todo mas também aberto quanto baste para que seja o leitor a tirar as suas conclusões.


Pedro Cleto escreve habitualmente no blogue As Leituras do Pedro.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *