Umbrella Academy

Argumento de Gerard Way, desenho de Gabriel Bá.

Umbrella Academy

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Disclaimer

A sério que queria perceber porque se fala tanto deste livro… E tentei, depois de duas décadas sem mexer no fosso imundo dos super-heróis e afins, lá comprei a edição portuguesa (Este texto refere-se à edição portuguesa embora as fotografias sejam da edição americana da Dark Horse que comercializamos)) da primeira compilação de Umbrella Academy, que junta a equipa criativa (pfffff) Gerard Way, o vocalista dos xoninhas My Chemical Romance (MCR), com o desenhador brasileiro Gabriel Bá – que já esteve presente na galeria da Mundo Fantasma.

Ao pegar no presente volume, mais do que um entretenimento puro e duro, o que vejo é um manual de cultura corporativista em que Grant Morrison, que abraçou a causa da trash culture, defende esta treta usando até o termo “ética do trabalho” para justificar a qualidade da BD. Isto num dos dois prefácios do livro, o primeiro é do desenhador Bá e serve para comemorar a edição portuguesa mas sem que ele tenha muito para dizer onde pouco há para contar, diga-se. O que Morrison alude é complementado com o posfácio Scott Allie (o editor original, dos EUA, da Dark horse) que também diz maravilhas como Way deu ao litro, entre turnês e outros compromissos com a sua banda – uma banda que teve sucesso à escala global – para escrever esta BD.

Admito que ver os vídeos e ouvir a música dos MCR dá-me asco, também eles corporativistas assumidos com fardetas Dark do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – mas que parecem antes fardas de super-heróis à lá X-Men dos filmes. A música é um insuportável Pop/Rock FM melódico que tanto podia confundir-se com o Punk/Pop dos Green Day como o Rock Teeny dos Tokyo Hotel. Péssimas referências estas duas. Os MCR ficam no meio delas. Visualmente Way é uma criatura horrorosa que faz caretas entre o mauzão demente (como mil bandas esquecidas do Nu Metal) e o tosco sedutor hermafrodita de um Glam Rock tardio. É música adocicada para jovens, subiu nos Tops de vendas sabe-se lá porquê. Quer dizer, a “ética do trabalho” significa muito para um país como os EUA. Passar de um media para outro também é bastante normal por aquele continente, basta ser famoso e rapidamente um “Rock star” vende pinturas, escreve livros, realiza filmes ou escreve para BD. Em 2007, o vocalista dos MCR meteu-se na BD, podia até correr bem e os (meus) preconceitos não serem fundamentados. E engoli-os para comprar este livro… mas não, isto não tem interesse nenhum e só assim se explica tantos prefácios e posfácios, para justificar o inevitável: it sucks!

Spoiler

O problema de Umbrella Academy (porque não traduzir “Academia Umbrella” já que “Academia Guarda-chuva” soa foleiro em ‘tuga?) não é um caso isolado. A produção norte-americana que se mantem com o conceito juvenil de fazer “comic-books” (a quem lhe chame de “floppies” agora) mensais parece ser um paradoxo gigantesco difícil de resolver. Só existe esta indústria de produção por causa das estruturas montadas vindas dos confins do século passado e porque os “comic-books” servem de motor para “trademarks” em que o verdadeiro “big money” é feito a posteriori quando uma série faz sucesso, é compilada em livro, transformada em “merchandising” e adaptada para cinema/televisão. No entanto, como formato para desenvolver narrativas interessantes mostra-se cada vez mais limitado e frustrante, a não ser que se seja um génio como o Alan Moore.

O mais estranho é saber que se fazem “deadlines” apertados para lançar estes fascículos mesmo quando é assumido que se trata de uma “mini-série”, ou seja, parece-me absurdo fazer “deadlines” muito próximos do real lançamento prás ruas quando não se trata de se alimentar uma série “eterna” como o Homem-Aranha que desde os anos 60 sai mensalmente, à qual não se pode falhar neste esforço contínuo. Os gringos assumem que trabalham num formato que não é só limitado fisicamente (cerca de 22 páginas a cores) como também o é temporalmente porque produzem num esquema de entregas mensal em cima do lançamento oficial invés de terem tudo pronto para depois publicarem mais tarde e sem “stresses”. Não me parece que os autores (se quisessem) possam sair desta caixa, ou sequer, lixar a caixa por dentro. Um sistema destes fazem do adágio “e a montanha pariu um rato” verdade, daí que acho esta série previsível de fasciculo em fascículo.

O que se vai ler (ou o que vai acontecer) é nos dado de forma tão óbvia que está-se mesmo a ver que a gaja da equipa destes super-heróis que teoricamente não tem superpoderes AFINAL é a que tem mais “powers”!!! E que o resto da equipa vai ter que lidar com ela quando esta se passar para o “outro lado” – aló Dark Phoenix Saga?

Teaser

Diz a sinopse que durante um acontecimento inexplicável, quarenta e três crianças foram geradas espontaneamente por mulheres que não apresentavam sinais de gravidez. Sete dessas crianças foram adoptadas por Sir Reginald Hargreeves e formaram a Umbrella Academy, uma família disfuncional de super-heróis com poderes bizarros. Na sua primeira aventura, essas crianças enfrentam uma Torre Eiffel enlouquecida. Quase uma década depois, a equipa separa-se, mas estes irmãos, desiludidos, reúnem-se a tempo de salvar o mundo outra vez. (…) Logo aqui soa a “homenagem” (uma forma cordial e industrial para dizer “rapinanço”) à Doom Patrol e aos X-Men, equipas de super-heróis bizarros e órfãos da Humanidade que um professor / doutor os reunirá sob a alçada da sua escola e protecção, para os colocar ao serviço do bem.

O universo que nos é dado a explorar trabalha com alguns flashbacks, em poucas coisas são explicadas para causar curiosidade aos leitores e futuros fãs mas não há nada aqui que crie mistério maior para empolgar seja quem for, a não ser que seja um leitor virgem ao género super-heróis. A excepção são as duas BDs fora da colecção que também se encontram neste livro que coleciona os seis primeiros números da série, esboços (so boring!!!) e essas duas BDs que eram “teasers” de promoção, lançadas antes da série sair oficialmente. São estas duas pequenas peças, “Mon dieu!” (de 2 páginas) e “…Mas o passado não perdoa.” (12p.) que mostram algum génio (foi sem querer?), piada e força do argumentista. A última, lançada como um Free Comic Book Day vemos um dos super-heróis desta família disfuncional que tem uns tentáculos, uma personagem extravagante visualmente e que não apareceu na história principal (another spoiler, sorry!) mas nem é por ele que tem piada, é justamente a esquizofrenia da acção toda que se passa nestes episódios, em que não há pontos de referência mas tudo avança para um absurdo de acção bastante divertida. Estes episódios mostram os dotes de Way como um bom manipulador da sua própria criação mitológica. Há que referir, já que tudo é explicado no livro, que estes “teasers” foram realmente feitos antes da série principal ter sido escrita. Ou seja, Way teve aquilo que se chama “sorte de principiante” e que depois foi-se esvaecendo…

Brouhaha

Os desenhos de Bá, feitos com profundos contrastes, lembram o estilo do Mike Mignola mas com mais expressividade que o criador de Hellboy. Suponho que o profissionalismo e “ética de trabalho” safe isto tudo embora acredite que se houvesse menos prazos para os autores, melhor seria o trabalho gráfico de Bá.

Por fim, lembro que nos finais dos anos 80 apareceu uma banda inglesa chamada Pop Will Eat Itself que é capaz de ser o melhor “nome-manifesto” para a música urbana pela forma autofágica como vemos as fórmulas repetirem-se até à exaustão, com uma indústria fonográfica a gastar mais dinheiro em promover lixo do que a incentivar à criação – aliás, como seria possível de outra forma? A “Academia do Guarda-Chuva” tem esse trago a derrota velha e acredito que a Devir tenha decidido publicar esta série para capitalizar o nome de um vocalista de uma “grande” (em dimensão) banda Pop/Rock naquela de trazer público generalista prá BD – e pode ser que daqui essas pessoas saltem para outros livros mais interessantes! É um bom golpe de publicidade, portanto, parabéns!

2 comments

  1. José Rui says:

    Resta acrescentar que além de ter inúmeros fãs na nossa livraria (o livro e ambos ao autores independentemente), ganhou o prémio Eisner para a melhor série limitada. Os Eisners são dos poucos prémios que merecem o respeito dos leitores neste meio e este livro ganhou um.

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