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Marcellus Hall

Marcellus Hall
Marcellus Hall na exposição Kaleidoscope City, em Novembro de 2008.

Teve uma infância e adolescência, no mínimo, turbulentas. Nascido em Minneapolis, em data indeterminada, já que todos os registos de nascimento dele perderam-se numa inundação, ficou órfão muito cedo. Na adolescência fez de tudo, desde vender caricaturas na rua a limpar neve, depois endireitou-se. Recebeu uma bolsa para estudar na Escola de Design de Rhode Island, onde foi um dos melhores alunos, e começou a aprender guitarra e harmónica. Passou por várias bandas, Railroad Jerk na década de 1990, com a qual editou quatro álbuns pela Matador, White Hassle até meados de 2000 (Isaac Brock, vocalista dos Modest Mouse, gosta tanto de uma música deles, Life is Still Sweet, que tatuou o título no braço) e agora prepara-se para lançar um disco, The First Line, a solo. Decidido a seguir carreira de ilustrador mudou-se para Nova Iorque em finais da década de 1980, desde aí ilustra com regularidade para publicações como The New Yorker (onde assinaria, em 2005, uma controversa capa), The Wall Street Journal, The Atlantic Monthly e Time, entre outras. Integra ainda os anuários da American Illustration, Communication Arts e Society of Illustrators.

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Kaleidoscope City

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Kaleidoscope City

Aqui, ao meu lado, pousado em cima da mesa, tenho um livro. “The Timeless Way of Building” de Christopher Alexander. Editado em 1979, é todo um clássico para quem trabalha em arquitectura, urbanismo, e por muito estranho que possa parecer, em desenho de software e programação. Muito resumido, fala de edifícios e cidades, do modo de fazer, do belo, do que é familiar, do inominável, de sustentabilidade, e sobretudo, de como os padrões ajudam a resolver problemas.
O mais curioso, ou aquilo que chama logo à atenção, é a forma como o próprio livro está organizado. Em cada capítulo, logo a seguir ao título, há um grupo de imagens, a preto e branco, sem legendas ou ordem aparente, que funciona como breve introdução visual ao que é abordado no texto. O objectivo é simples, folheando, temos uma apresentação visual do conteúdo. Se o tempo é pouco, também não somos obrigados a ler tudo, as frases em itálico que estão espalhadas pelo texto resumem aquilo que é principal. Se estivermos com mais disponibilidade, então lemos o início, o itálico e o fim de cada capítulo. Ou seja, numa hora ficamos a compreender o todo pelas partes, e então, se quisermos saber detalhes, avançamos para uma leitura completa. A sugestão é do próprio Christopher, que assim, não fez mais do que exemplificar a utilidade dos padrões.

Saltando para a ilustração, há ilustradores que são imediatamente identificados pela liberdade do traço, estranheza da figura humana ou ainda pela paleta de cores que usam, muito pessoal e aparentemente intransmissível. A tudo isto podemos juntar um tema, ou melhor, um tema recorrente. O de Marcellus Hall é Nova Iorque e quem nela vive. Dito assim parece simples, mas não é. Quando falamos de Nova Iorque, ou de qualquer outra grande cidade, falamos de bairros, ruas, lugares, lojas e arranha-céus, anúncios publicitários, monumentos, jardins, luzes e ruído, de betão, cimento e algum tijolo. E tudo tem um nome próprio, neste caso: Chinatown, Brooklyn, East Broadway, South Street Seaport, Central Park, 40/40 Club, Bryant Park Hotel, Hudson Bar, Moomba, root beer, medallion taxi, johnny pump, MoMA e um longo etc.

Depois segue-se quem lá vive, trabalha, está de passagem, visita uns amigos ou acabou de chegar e olha para o mapa com inquietação. Mais ainda: o que vestem, comem, lêem, como andam, amam, abraçam e outro longo etc. O problema, como é óbvio, está em ilustrar tudo isto. Não se ilustra, é a resposta. Ou melhor, puxamos de um caleidoscópio, apontamos para a cidade, vamos rodando e ilustrando as partes. Rodamos para Chinatown, esboçamos a multidão que inunda as ruas em hora de compras; rodamos para East Broadway, fixamos um fim de tarde com a silhueta do monumental edifício dos serviços municipais da cidade; rodamos para South Street Seaport, apanhamos um engalanado dia de foguetório nacionalista; em Central Park, um casal na relva, ele indiferente, ela pronta para pôr um ponto final no namoro; em Red Hook, músicos, malabaristas, dançarinas e mágicos numa antiga e mítica barcaça dos caminhos de ferro; rodamos uma última vez, vislumbramos Adão e Eva, expulsos de Manhattan, a correr pela ponte de Brooklyn em direcção ao novo paraíso. É assim, pelas partes, pelo padrão, pelas semelhanças, que chegamos à cidade. E quem faz isso, ilustra o todo. E é o que Hall faz. Talvez por isso, os prédios e ruas que ilustra são tão carne e osso como quem neles vive ou por elas se passeia. | Paulo Patrício


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Data

De 29 de Novembro de 2008 a 4 de Janeiro de 2009

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As fotografias 3, 4 e 5 são de Mário Venda Nova.