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Hipertexto #65

The Bloody Footprint
Uma banda desenhada de Lilli Carré no New York Times. Este jornal é dos que melhor utiliza os meios da internet para apresentar páginas atraentes e admiráveis. Esta bd não é excepção (entretanto ganhou o Ignatz de 2015 para “Outstanding Online Comic”).

A borboleta e o autor
Entrevista de Steven Heller a Peter Kuper. Print.

Ilustração de Adrian Tomine na capa da New Yorker
Saiu este mês nos EUA o novo livro de Tomine: Killing and Dying.

Mais cinco comics que fazem parte da minha vida

32 Stories

Eye of the Beholder

Palestine Special

Depois de no mês passado ter destacado cinco bandas desenhadas de super-heróis enquanto obras que mudaram e moldaram os meus gostos e expectativas, este mês vou de alguma forma repetir a dose, mas evocando cinco comics independentes ((Independentes das duas grandes editoras de comics de super-heróis, a Marvel e a DC Comics, ou, se preferirem, alternativos – a esses mesmos comics mais comerciais de super-heróis…)) (que também) fazem parte da minha vida.

Num plano diferente, sem dúvida, porque menos populares/mediáticos/(re)conhecidos do que os comics de super-heróis que referi então – e que, sem qualquer dúvida, são consensuais dentro do género — mas igualmente importantes por terem contribuído para alargar os meus horizontes enquanto leitor de quadradinhos.

Antes de o fazer, necessito de um breve preâmbulo, para evocar a minha participação na organização e produção do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, ao longo de todas as suas edições, pois isso permitiu-me não só conhecer pessoalmente alguns dos autores que, a diferentes níveis, me marcaram – Prado, Davodeau, Schuiten, Peeters, Trondheim, Baru, Dupuy, Berberian… — enquanto leitor de quadradinhos, mas também descobrir nomes que desconhecia – de que nunca tinha sequer ouvido falar — e que apresentavam outro tipo de registos, de propostas, de desafios, que se revelaram também estimulantes.

Propostas que, confesso, não me marcaram tanto como os “Cinco comics de super-heróis que fazem parte da minha vida”, pois a maior parte deles dificilmente fariam parte das 20, 30, 50 melhores obras que já li. Mas propostas que, sem dúvida, contribuíram para que eu me atrevesse a descobrir algumas dessas 20, 30, 50 melhores obras que já li.

Isso foi possível graças à combinação de gostos e universos de quem organizava o SIBDP, em especial a partir da sua sexta edição. Foi dessa forma que encontrei – e nalguns casos passei a seguir – nomes na época ainda pouco conhecidos, mas que se viriam a afirmar como fundamentais na criação aos quadradinhos das últimas três ou quatro décadas. Dave McKean, Ed Brubaker, Joe Sacco ou Seth são os mais significativos que me ocorrem, ao correr dos dedos pelo teclado, entre os que passaram pelo Mercado Ferreira Borges, no Porto, que acolhia o SIBDP.

Mas, sem mais demoras, passemos então à mão cheia de obras que quero propor hoje, apresentadas sem qualquer critério de ordenação.

Optic Nerve

De Adrian Tomine. Comic aperiódico, com registos, quase sempre curtos, entre o autobiográfico e a ficção social – se posso chamar-lhe assim -, que revelam um autor – que é tímido mas – atento e capaz de explanar aos quadradinhos pormenores quotidianos, dramas íntimos, emoções ou formas de estar em que – paradoxalmente – revela tanto de si.

Eye of the Beholder

De Peter Kuper. Um desafio ao olhar e à mente do leitor. Quatro vinhetas numa página que são resolvidas/unidas/explicadas pela vinheta final, impressa no verso das outras quatro. Uma forma inteligente de mostrar como o nosso olhar, distorcido pela nossa formação/cultura/posição social interpreta – tantas vezes – mal as coisas simples do dia-a-dia.

Visitations

De Scott Morse. Um relato contido, pausado, em que cada frase é para ser lida, meditada, sentida como cada personagem a sente, e no qual nos é mostrado que Deus – afinal? – existe. Nós é que não o queremos – sabemos? – ver…

The left gang bank

De Jason. Uma história ambientada em Paris, França, no início da década de 1920, protagonizada por F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Ezra Pound, James Joyce… Artistas (e) boémios, invejosos uns dos outros, amantes de longas conversas, belas mulheres e bom vinho. Criadores de excepção, cujo génio e méritos ficam expressos nas obras que criam… em banda desenhada, a arte que impera neste universo paralelo perfeitamente identificável.

A meio do relato, uma mudança de agulha transforma esta metáfora gráfica num policial puro, que parte de um assalto a um banco levado a cabo com brilhantismo pelo quarteto, mas condenado pelas sucessivas traições que o leitor – rendido e de surpresa em surpresa – irá descobrir.

Hicksville

De Dylan Horrocks. Um crítico de uma conceituada revista de comics, vai a Hicksville em busca do sucessor de Jack “King” Kirby. Uma vez chegado, constata surpreso que lá se encontram os números mais raros da história dos comics, os fanzines mais obscuros, as edições menos divulgadas, os leitores mais conhecedores… Porque em Hicksville todos lêem, coleccionam, vivem ou desenham comics. Pelo amor à arte, não suportando quando esta se transforma em indústria.

E se Hicksville é – também – uma crítica feroz ao mundo dos comics mainstream, onde os grandes autores fazem carreira à custa do trabalho de dezenas de desenhadores anónimos, mais do que isso é uma obra sobre a paixão pelos comics, que mostra a vida real como um buraco negro quando comparada com o mundo ideal da BD.

Palestine

De Joe Sacco. Pela minha participação na sua edição em português ((Co-edição Mundo Fantasma/MaisBD/Devir, com o apoio da Bedeteca de Lisboa,  em 2004)). Pela forma – então — inovadora e interessante como aborda o conflito israelo-palestiniano. Pelo tom – pioneiro – de reportagem — desenhada – que a obra assume, baseada nos dois meses que o autor passou na Palestina, no Inverno de 1991-92, a recolher dados e a dialogar com os seus habitantes, vivendo como eles. O resultado é um relato forte – subjectivo, claro – mas humano, sincero, pungente, por vezes chocante, sobre o que o ódio pode fazer ao ser humano. E do que o ser humano pode fazer, devido ao ódio.